E o que é mesmo essa tal de Arte?
Antes de mais nada, o artista precisa da arte e da técnica para comunicar-se.
Antes de mais nada, o artista precisa da arte e da técnica para comunicar-se.
Desde os tempos mais recuados do pensamento escrito, o homem vem
procurando a expressão que defina a acepção específica do vocábulo Arte. Mas a
verdade é que todas as definições, das mais antigas às mais recentes, sempre
deixam algo a desejar, ou um aspecto a incluir.
Afirmou
Platão, que Arte deveria ser a sublimação da verdade – mas não esclareceu
perfeitamente o que entendia por sublimação, nem por verdade; o esclarecimento
teria sido útil, e mesmo indispensável, principalmente quanto a esta última,
uma vez que, para o mestre do jardim de Academus, a verdade ora é uma idéia
pura, ora é algo de concreto e objetivo. O mais célebre dos discípulos de Platão,
e um dos cérebros mais portentosos que a
humanidade já produziu – Aristóteles – chegou a uma concepção catártica da Arte: Arte é libertação, com o propósito de significar que realizando
Arte, quem a realiza se liberta da pressão interna de um seu sentimento que
anseia por ser expresso. A
definição perdeu seu sentido quando se verificou que uma carta de amor também
pode ser obra de arte [e, portanto, Arte], sem que quem a escreve deixe de
amar, isto é, se liberte do sentimento que anseia ser expresso.
Shakespeare,
em várias passagens de suas tragédias, tenta uma definição de Arte; e numa
dessas passagens afirma que “a própria
Arte é a Natureza” com o intuito de significar que, fora da Natureza ou de
sua representação, embora melhorada ou aperfeiçoada, não há obra de arte. E
também esta tentativa se esboroa, quando se lembra que uma simples
fotografia, mesmo sem gosto e sem maiores qualificações, pode representar a
Natureza – ou algo da Natureza – melhorando-a sob determinados aspectos, sem
que, só por isso, passe a ser obra de arte.
Emílio Zola tem uma definição admissível, quando diz que a Arte é a Natureza vista através de um temperamento. Para os artistas, principalmente os artistas dos meados do século XIX e começos do século XX, arte foi precisamente isso [um apresentador da Natureza
vista através do próprio temperamento, e por vezes, através das qualidades ou
dos defeitos dos seus órgãos visuais]. E Assim, chegamos à quase convicção de
que de fato, Zola não andou muito longe daquilo que, ao seu tempo, pudesse ser admitido como uma definição de Arte.
Benedito
Croce, o pensador italiano expoente na história da Filosofia
moderna, em seus estudos relacionados com a Arte chegou a uma definição sintética
interessante. Disse ele que Arte é expressão
– e até certo ponto, Arte é sem dúvida expressão. Porém, se descemos ao
terra-a-terra e aplicamos essa definição, tem-se que a criança que chora,
porque com o choro expressa alguma coisa [e, portanto, faz expressão], realiza
com isso também uma obra de arte – o que é absurdo.
Note-se
que, antes do século XVIII, nenhum pensador, mesmo entre os filósofos mais
autênticos, tratou de investigar metodologicamente as características profundas
do fenômeno da produção e do entendimento da obra de arte. Somente nesse século
é que Alexandre Baumgarten, criou todo um setor novo da Filosofia,
particularmente dedicado ao estudo da Arte, do Belo, do Sublime, dando, a esse
setor, uma denominação, embora algo imprópria do ponto de vista
etimológico: Estética. Criado o
novo setor da Filosofia, dezenas de pensadores a ele se dedicaram com afinco. Salientando-se por sua profundeza e pela sua superespecialização no assunto, o já mencionado Benedito Croce - uma das mais puras expressões da
moderna cultura filosófica européia e universal. Nem mesmo assim conseguiu chegar a uma definição integral da
Arte, e menos ainda a uma explanação daquilo que deva ser obra de arte, ou
fenômeno de criação estética da expressão criada.
Pop Art - Andy Wharol
Pode-se dizer que, para os antigos, desde os da mais remota antiguidade até à Renascença, passando pelo período áureo da Grécia, Arte foi imitação da Natureza em forma de Pintura, Escultura, Poesia e até mesmo Música, sem exclusão das imitações mais diretas, como a representação teatral, a Dança e a Literatura de ordem meramente descritiva. Modernamente, verifica-se que, nas obras de arte que restaram daqueles tempos, o artista pôs algo mais do que aquilo que ele apenas via na Natureza. Pôs também aquilo que ele sentia – que o emocionava – que o inspirava – ao contemplar a Natureza; algo que não se encontrava na Natureza em si mesma, e sim na intimidade profunda da sensibilidade do artista.
Mais modernamente passou-se a
admitir, que o artista pode
prescindir da Natureza – afastar-se do que se denominariam formas naturais
– tornar-se independente dos contornos sugeridos pela realidade objetiva,
concebendo por exemplo, uma árvore, um homem, ou uma casa, sem qualquer dos
predicados que a árvore, ou o homem, ou a casa, acusam [quando materialmente
existentes], ao espírito de quem os analisa sem pretender fazer arte.