segunda-feira, 30 de abril de 2012


E  o que é mesmo essa tal de Arte?

Antes de mais nada, o artista precisa da arte e da técnica para comunicar-se. 

Desde os tempos mais recuados do pensamento escrito, o homem vem procurando a expressão que defina a acepção específica do vocábulo Arte. Mas a verdade é que todas as definições, das mais antigas às mais recentes, sempre deixam algo a desejar, ou um aspecto a incluir.

Afirmou Platão, que Arte deveria ser a sublimação da verdade – mas não esclareceu perfeitamente o que entendia por sublimação, nem por verdade; o esclarecimento teria sido útil, e mesmo indispensável, principalmente quanto a esta última, uma vez que, para o mestre do jardim de Academus, a verdade ora é uma idéia pura, ora é algo de concreto e objetivo. O mais célebre dos discípulos de Platão, e um dos cérebros mais  portentosos que a humanidade já produziu – Aristóteles – chegou a uma concepção catártica da Arte: Arte é libertação, com o propósito de significar que realizando Arte, quem a realiza se liberta da pressão interna de um seu sentimento que anseia por ser expresso.  A definição perdeu seu sentido quando se verificou que uma carta de amor também pode ser obra de arte [e, portanto, Arte], sem que quem a escreve deixe de amar, isto é, se liberte do sentimento que anseia  ser expresso. 

Shakespeare, em várias passagens de suas tragédias, tenta uma definição de Arte; e numa dessas passagens afirma que “a própria Arte é a Natureza” com o intuito de significar que, fora da Natureza ou de sua representação, embora melhorada ou aperfeiçoada, não há obra de arte. E também esta tentativa se esboroa, quando se lembra que uma simples fotografia, mesmo sem gosto e sem maiores qualificações, pode representar a Natureza – ou algo da Natureza – melhorando-a sob determinados aspectos, sem que, só por isso, passe a ser obra de arte.  

Emílio Zola tem uma definição admissível, quando diz que a Arte é a Natureza vista através de um temperamento. Para os artistas, principalmente os artistas dos meados do século XIX e começos do século XX, arte foi precisamente isso  [um apresentador da Natureza vista através do próprio temperamento, e por vezes, através das qualidades ou dos defeitos dos seus órgãos visuais].  E Assim, chegamos à quase convicção de que de fato, Zola não andou muito longe daquilo que, ao seu tempo, pudesse ser admitido como uma definição de Arte.

Benedito Croce, o pensador italiano expoente na história da Filosofia moderna, em seus estudos relacionados com a Arte chegou a uma definição sintética interessante. Disse ele que Arte é expressão – e até certo ponto, Arte é sem dúvida expressão. Porém, se descemos ao terra-a-terra e aplicamos essa definição, tem-se que a criança que chora, porque com o choro expressa alguma coisa [e, portanto, faz expressão], realiza com isso também uma obra de arte – o que é absurdo.

Note-se que, antes do século XVIII, nenhum pensador, mesmo entre os filósofos mais autênticos, tratou de investigar metodologicamente as características profundas do fenômeno da produção e do entendimento da obra de arte. Somente nesse século é que Alexandre Baumgarten, criou todo um setor novo da Filosofia, particularmente dedicado ao estudo da Arte, do Belo, do Sublime, dando, a esse setor, uma denominação, embora algo imprópria do ponto de vista etimológico:  Estética. Criado o novo setor da Filosofia, dezenas de pensadores a ele se dedicaram com afinco. Salientando-se por sua profundeza e pela sua superespecialização no assunto, o já mencionado Benedito Croce - uma das mais puras expressões da moderna cultura filosófica européia e universal. Nem mesmo assim  conseguiu chegar a uma definição integral da Arte, e menos ainda a uma explanação daquilo que deva ser obra de arte, ou fenômeno de criação estética da expressão criada.


Pop Art - Andy Wharol

Pode-se dizer que, para os antigos, desde os da mais remota antiguidade até à Renascença, passando pelo período áureo da Grécia, Arte foi imitação da Natureza em forma de Pintura, Escultura, Poesia e até mesmo Música, sem exclusão das imitações mais diretas, como a representação teatral, a Dança e a Literatura de ordem meramente descritiva. Modernamente, verifica-se que, nas obras de arte que restaram daqueles tempos, o artista pôs algo mais do que aquilo que ele apenas via na Natureza. Pôs também aquilo que ele sentia – que o emocionava – que o inspirava – ao contemplar a Natureza; algo que não se encontrava na Natureza em si mesma, e sim na intimidade profunda da sensibilidade do artista. 

Mais modernamente passou-se a admitir, que o artista pode prescindir da Natureza – afastar-se do que se denominariam formas naturais – tornar-se independente dos contornos sugeridos pela realidade objetiva, concebendo por exemplo, uma árvore, um homem, ou uma casa, sem qualquer dos predicados que a árvore, ou o homem, ou a casa, acusam [quando materialmente existentes], ao espírito de quem os analisa sem pretender fazer arte.